quarta-feira, 2 de abril de 2008

CARAVANA DA EMOÇÃO









Conhecido pela alcunha de “O Clube mais querido da cidade”, o Goytacaz Futebol Clube viveu no ano de 2006, um dia mágico, nostálgico para seus abnegados torcedores.
Ao empatar heroicamente em 0 x 0 com a Portuguesa, no Estádio Luso Brasileiro, na Ilha do governador, quando o clube de Campos atingiu 14 pontos, ficando assim com a quarta colocação na classificação geral da seletiva de acesso à primeira divisão do campeonato carioca de 2007.
Após o apito final do juiz, a explosão de alegria foi geral, nas arquibancadas do estádio e em toda a cidade de Campos dos Goytacazes, o time de maior torcida da região Norte/Nordeste Fluminense retorna á elite do futebol no estado, após 15 anos “penando” pelas divisões de acesso do campeonato estadual.
A ansiedade tomou conta de dirigentes, jogadores e torcedores, desde o início da semana que antecedia o grande jogo, pois a ânsia de todos era ver novamente o tradicional clube campista de volta a primeira divisão do futebol do estado do Rio de Janeiro e para isso foi organizada uma verdadeira caravana para a “cidade maravilhosa” para acompanhar o jogo decisivo.
A boa fase do time fez com que também ex-dirigentes, ex-jogadores e torcedores que estavam afastados do dia a dia do clube, “chegassem junto” para colaborar com o Goytacaz, neste momento tão importante para este clube quase centenário.
Antes mesmo de o sol aparecer naquela manhã de domingo, 25 de novembro, já era possível ouvir estouro de fogos e vozes a ecoar ao longe com os gritos de “Goyta”, além do desfile de camisas azuis por toda a cidade.
Por volta das 09:00 horas, uma pequena multidão já era vista, e principalmente, ouvida, nas imediações da Rua do Gás, sede do Goytacaz, além de vários outros grupos se formando por toda a cidade para irem até a capital do estado, torcer pelo seu time querido.
Pouco depois das 10:00horas da manhã, começa a sair os diversos ônibus rumo ao Rio, são cerca de 30 coletivos, além de um incontável número de vans e carros de passeio, que se perfilam na entradad da cidade de Campos, no Shopping Strada para dar início à viagem em comboio.
Dentro do ônibus n° 04 da Torcida Organizada do Goytacaz – TOG, quarenta e três torcedores cantam o hino do clube, gritos diversos e sambas de enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro e das de Campos também, mantendo viva a memória carnavalesca da cidade, que já teve a sua “festa de Momo” considerada como a terceira melhor do Brasil.
Cantando várias músicas, regado a duas garrafas de cachaça, os torcedores alcançam a metade da viagem, é hora de dar uma parada para almoçar e o local escolhido é o restaurante Sabor do Sítio, localizado na cidade de Silva Jardim.
Todos alimentados e o responsável pelo ônibus de barriga cheia, cabeça cheia e bolso vazio, pois acabou sobrando para ele pagar a conta de seis rapazes que mesmo sem dinheiro para pagar o almoço, insistiram em comer, para só depois tentar dar um jeito, mas isso não desanimou a viagem.
O cansaço começa a bater e os gritos e cantos rareiam e é comum agora ouvirmos alguns roncos, pois as “baterias” precisam ser recarregadas para a hora do jogo, somente o motorista e o responsável pelo grupo, conversam de olho nas sinuosas curvas da BR 101.
O despertar de alguns torcedores e o forte cheiro de “peixe podre” na beira da Baía de Guanabara, anunciam que a chegada ao Rio se aproxima , o que anima ainda mais os que já acordaram, despertando os que continuam sonolentos.
Ao atravessar a Ponte Rio / Niterói, verifica-se que o comboio, maio disperso, se acumula em um grupo de 12 ônibus mais ou menos, além de uma grande quantidade de carros pequenos, que nos ultrapassa buzinando e estendendo uma camisa, ou uma bandeira azul.
Descendo a ponte e pegando a pista em direção a Avenida Brasil, ecoa os gritos de “Goytão, ê, ô, Goytão, ê, ô...” até a entrada para a ilha do Governador, o grupo logo avista a entrada para o Aeroporto Internacional do Galeão, agora homenageando o cantor e compositor “Tom Jobim”.
Na localidade do Cocotá já nas proximidades do estádio, todos os ônibus e demais veículos que facilitem a identificação como sendo de Campos, são parados e revistados pela polícia militar, que escoltará o comboio até o local da grande partida, evitando assim, o confronto com torcedores locais.
Ao chegar no belo complexo esportivo da tradicional Portuguesa carioca, os campistas, que são maioria absoluta no local, se depara com torcedores da “lusinha”, como a equipe carioca é carinhosamente chamada, que se confraternizam com muito churrasco e cerveja ao som da tradicional bateria da Escola de Samba União da Ilha do Governador e recepciona amigavelmente os visitantes.
Chegando a hora da partida, a torcida do Goytacaz, com cerca de 1.500 torcedores se aperta no espaço a ela destinado e fazem uma bonita festa com fogos, fumaça, papel picado e bandeiras.
O decisivo jogo começa e o time da casa pressiona, já que para eles só a vitória interessa para poderem ascender à divisão de elite do futebol carioca, já para o Goytacaz, o empate também interessa, caso a equipe do Bonsucesso não vença o time do Villa Rio, que joga em casa, na cidade de Resende, no sul Fluminense de Resende.
Um jogo tenso, com chances desperdiçadas pelos dois times, onde os destaques foram os goleiros Gláucio do Goytacaz e Max da Portuguesa que fizeram boas defesas salvando os seus times. O resultado persiste e aos 25 do segundo tempo, quando esse resultado eliminava as duas equipes e dava a classificação ao Bonsucesso, que vencia por um gol e cede o empate ao time de Resende; Com esse resultado a classificação é do Goytacaz, que vem se fechando e sofrendo uma forte pressão da equipe carioca até o apito final do árbitro da partida.
A comemoração ainda é bem tímida, pois o jogo de Resende começou com um atraso de 16 minutos e a vitória do Bonsucesso pode apagar o sonho de Campos de voltar a ter dois clubes na elite estadual. Os jogadores fazem uma corrente na beirada do campo, para ficar mais perto da torcida, que não ousa a arredar pé do bonito estádio da Ilha do Governador.
Os ouvidos atentos a tudo o que acontece no Sul Fluminense e o clima de ansiedade contagia a todos, quando aos 43 minutos do segundo tempo em um ataque inesperado do Villa Rio pega a defesa Carioca desprevenida e é o gol da virada do Villa Rio, a explosão foi geral no Rio de Janeiro, em Campos e em todo Norte Fluminense, agora ninguém mais poderia tirar a classificação do Goytacaz.
A torcida invade o campo para comemorar junto com os jogadores, as lágrimas vem de todas as partes e ecoa aos quatro ventos os gritos “ão, ão, ao, primeira divisão”, “Americano pode esperar, a sua hora vai chegar...” e “é Ferro, é Cano, no C... do Americano”, em alusão ao eterno rival.
Os torcedores se encaminham extasiados para os ônibus, que os levarão de volta a Planície Goytacá, onde a noite promete ser longa.
No restaurante Rei do Gado, uma parada para jantar, são sete ônibus que ali param, quando todos já estavam com seus pratos prontos, chegam seis ônibus de torcedores do Macaé Esporte, que foram também ao Rio, onde seu time enfrentou o Bangu.
O clima de tensão foi grande por ambas as partes, já que os dois clubes são tradicionais rivais e várias brigas entre seus torcedores foram anotadas. Com a intervenção dos líderes das duas torcidas, o clima de paz reinou, já que o dia era de festa, pois o Macaé havia ficado com a segunda vaga e o Goyta a quarta, o que credenciaria as duas equipes, junto com a do Bangu e a do Olaria, a disputarem novamente o Campeonato do Estado do Rio de Janeiro da primeira divisão.
Embarcando de volta no ônibus da TOG, da empresa Angélica Tur, para chegar ao destino final, Campos dos Goytacazes, que já deve estar em festa.
Quando chega pelos lados da localidade de Ibitioca, o cansaço é deixado de lado e os gritos de amor ao time são novamente evocados, acordando e animando todos dentro do ônibus, que pouco depois já avistam a cidade no horizonte, toda iluminada.
Como de praxe, a primeira parada ao chegar à zona urbana campista, é na Avenida 28 de março, uma das principais, onde se localiza o estádio do arqui-rival, Americano, que ao longe já se ouvia gritos de hostilidade ao alvinegro, o comboio se direciona para a Rua do Gás, onde o motorista deixa todos os passageiros e segue para seu merecido descanso.
Centenas de torcedores se aglomeram na porta principal do Estádio Ary de Oliveira e Souza, na expectativa da chegada dos jogadores.
Os vinte e dois homens que de dentro do campo, honraram as cores deste clube quase centenário, chegam em cima de um trio elétrico, que toca o hino do clube no mais alto som e se encontram com seus apaixonados torcedores, para assim completarem a festa.
A cidade que adormecia e acordou para saudar o seu clube mais tradicional e de maior torcida, volta aos poucos a adormecer, mas agora bem mais feliz e AZUL.


* Texto escrito por ocasião da ascensão do Goytacaz Futebol Clube, à 1ª divisão do futebol profissional do Estado do Rio de Janeiro, quando garantiu sua vaga ao se classificar na quarta colocação. Mas devido à morte do então presidemte da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, o Sr. Eduardo Augusto da Silva Viana, mais conhecido como “Caixa D’Água o torneio foi anulado e o tradicional clube amargou mais um ano na segunda divisão.